A Lisbona a parlare di “Donne, Chiesa e Giornalismo”

Su invito dell’Istituto di Cultura Italiano e dell’Università cattolica di Lisbona, conferenza di Fausta Speranza, poi intervistata dal quotidiano Diario de Noticias: 

Premium Fausta Speranza: “Não conheço mulheres que gostassem de ser padres”

A primeira mulher jornalista da secção de política internacional de L’Osservatore Romano esteve em Lisboa para falar sobre “Mulheres, Igreja, jornalismo – A comunicação como nova fronteira”.

No final da conferência, a jornalista falou ao DN sobre estes tempos em que as mulheres vão ganhando protagonismo na Igreja, numa altura em que o Sínodo da Amazónia antecipa a necessidade de repensar os ministérios das mulheres e em que a Europa política mergulha num caldo de xenofobia, nacionalismos e fake news, alimentado por uma extrema-direita que não tem pudor em atacar o próprio Papa Francisco.

Sobre abusos sexuais e casos de pedofilia, é particularmente dura em respostas aos participantes na conferência. “Como era possível pedir aos divorciados para se manterem afastados do sacramento da eucaristia quando mantinham padres acusados de pedofilia?”, questionou. Nesta conferência, durante a entrevista, Fausta Speranza socorreu-se muitas vezes do seu trabalho para responder, recordando o que o jornal da Santa Sé fez a propósito das eleições europeias de maio.

“Como era possível pedir aos divorciados para se manterem afastados do sacramento da eucaristia quando mantinham padres acusados de pedofilia?”

Fausta é a primeira mulher da secção de política internacional no L’Osservatore Romano. No último ano, o Papa Francisco nomeou mulheres para alguns postos-chave no Vaticano. É importante esta abertura do Vaticano?
É muito importante. Mas creio que isso deve acontecer sempre por critérios de qualidade das pessoas.

Apontou a necessidade de as mulheres não replicarem o poder masculino. Até que ponto as mulheres podem trazer uma visão diferente à Igreja de hoje?
Para já, deviam ser escolhidas por pessoas diferentes, sem essas lógicas de poder como prioridade, que querem e procuram a verdade, que não trabalham para si mesmas, que não procuram pessoas que trabalhem para si mas que procurem o bem comum. Como costumo dizer, quem tem poder no Vaticano deveria mudar-se primeiro a si mesmo, depois escolher as pessoas, as mulheres certas. De outra forma, acabam por escolher apenas as mulheres mais parecidas com eles.

Esta é a mudança de que gosto e de que quero falar, é a mudança que acho que está mesmo a acontecer com este Papa, o Papa Francisco. Alguns poderão dizer que isto não é importante, mas quero realçar que o Papa nomeou pessoas para cardeais que tinham funções que normalmente não implicavam que fossem nomeadas cardeais. Estávamos habituados à ideia do cardeal como a pessoa mais importante, que mais conta, que mais manda, mas o Papa Francisco relembrou que cardeal é o que tem a veste vermelha [está ao serviço dos demais]. Por isso nomeou cardeais que trabalharam no terreno, próximos das pessoas, e não outros que esperavam ser nomeados. É esta a esperança maior. O mais importante é que a gestão do poder não se torne mais importante do que os objetivos que temos.

Sim, absolutamente.

A Europa vive um problema de vocações. E há quem defenda que a ordenação de mulheres poderia ser um caminho para acabar com a desertificação de ordenações. É possível?
Não conheço mulheres que gostassem de ser padres, sacerdotisas. Eu, por exemplo, não quereria ser.

“A Igreja Anglicana abriu novas funções às mulheres [incluindo a ordenação] e não duplicou as suas vocações por isso.”

É possível a Igreja caminhar nessa direção?
Penso que deveríamos antes falar de outras questões. A Igreja Anglicana abriu novas funções às mulheres [incluindo a ordenação] e não duplicou as suas vocações por isso. Gostaria de falar de dados. Acho que isto não está na questão feminina. Há muito a fazer do lado dos leigos e aí as mulheres poderiam entrar muito bem.

Repensando os ministérios das mulheres na Igreja, de um outro serviço na Igreja?
Há muitas coisas que mudam seguramente ao longo dos tempos a nível de sensibilidade. Atualmente, por exemplo, há mais freiras que estudam, comparando com o passado.

Como jornalista que acompanha a política internacional e o debate que se instalou na Europa por causa da extrema-direita, é também um desafio para a Igreja a forma como a extrema-direita está a atuar?
A Igreja, por definição, tenta sempre alertar para o correto. E o primeiro objetivo político da Igreja, aquilo que a distingue – ou melhor, aquilo que deveria distingui-la -, é o bem comum. Os objetivos dos bancos, da finança e de muitos políticos não são o bem comum, têm objetivos diferentes: os bancos querem fazer dinheiro, os políticos querem ser eleitos. O bem comum é uma expressão muito bonita mas também é muito utilizada. A Igreja tem valor político porque tem esta especificidade; quando perdeu de vista o bem comum estragou tudo.

“A Igreja tenta sempre alertar para o correto. E o primeiro objetivo político da Igreja, aquilo que a distingue, é o bem comum. Os objetivos dos bancos, da finança e de muitos políticos não são o bem comum, têm objetivos diferentes.”

No atual contexto da Europa, estes movimentos de extrema-direita não podem minar os esforços do Papa para que haja outro discurso sobre os refugiados, os migrantes, aquele que nos é próximo?
Respondo contando isto: como é que fazemos a cobertura destas situações? No caso das últimas eleições europeias, discutimos no jornal como fazer, demos todos os dados e tentámos discutir os problemas. Como jornalista do L’Osservatore, escrevi vários artigos sobre aquilo que em italiano se chama a dispercezione (desperceção), ou falha de perceção, a diferença entre o que as pessoas acham e aquilo que são os factos. Por exemplo, há muita gente em Itália que pensa que somos o país com o maior número de imigrantes, mas os factos dizem que não é bem assim.

Uma editora pediu-nos todos estes discursos intelectuais, políticos, poéticos e papais – eu acrescentei um por cada papa, desde Pio XII até à atualidade, e fizemos um livro que foi muito procurado, não no meio católico mas nas universidades mais laicas, nos jornais mais laicos. Recebi muitas cartas e mensagens de jornalistas laicos a comentar que achavam que já sabiam tudo isto, mas só relendo estes discursos perceberam que havia coisas que ignoravam ou de que já não se lembravam, e perceberam sobretudo que já existiam alguns receios na altura. Estes discursos dizem precisamente: queremos isto, mas temos medo disto e daquilo.

“A União Europeia nasceu como uma exigência de paz, uma fortaleza da paz. Isto pode parecer quase óbvio, mas estivemos todas estas décadas em paz precisamente porque existe Europa.”

Fizemos isto para concentrar o discurso nas pessoas e nos objetivos – o discurso europeu tinha determinados objetivos, foram atingidos ou não? E o problema foram esses objetivos ou as pessoas? Ainda hoje reler aqueles discursos significa entender que a União Europeia nasceu como uma exigência de paz, uma fortaleza da paz. Isto pode parecer quase óbvio, mas estivemos todas estas décadas em paz precisamente porque existe Europa. Queremos a paz? Queremos a solidariedade entre os povos? Estas são as perguntas que procurámos sempre introduzir em todos os artigos que falam dos projetos políticos.

Falou muito de factos e da verdade dos factos. Hoje fala-se também muito em como as fake news, a informação falsa, corrói a democracia. Não há também o perigo de corroer muito do que se faz na Igreja? Por exemplo, com a influência de Steve Bannon junto de meios ultraconservadores na Igreja.
Devo ser sincera e humilde: não sei. O que sei é que tentámos fazer muitas campanhas contra as fake news, publicando por exemplo sempre a fonte dos relatórios. Descobrimos que estávamos a perder leitores, mas nos últimos tempos também constatámos que muitos regressam ao L’Osservatore, porque não temos a cacha, a grande notícia, mas temos a análise aprofundada das notícias.

 

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